Nelson Favas

Longe, mas nunca antes estivemos tão ligados uns aos outros.

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Todos vamos certamente sair mais generosos, compreensivos, fortes, eficazes e produtivos desta “Guerra”, a viragem abrupta obriga-nos a descobrir em nós facetas desconhecidas, habilidades imagináveis e uma capacidades de superação incalculável.

Há três semanas atrás passavam-se semanas que “não ligávamos”, “éramos felizes” na nossa correria e tudo acontecia a tanta velocidade que muito, ou quase tudo, nos passava ao lado, falo claro das coisas simples…

Abraçávamos, beijávamos, mas não tanto quanto devíamos, agora sentimos falta. Fomos forçados a esta nova forma de vida e desejamos hoje o que outrora nos era dado de bandeja e a maioria das vezes não era a nossa prioridade, queixávamo-nos de falta de tempo… e o que mais nos atormenta é o desconhecimento do tempo, o tempo que levará e o que levará o tempo…

O tempo?

Agora conseguimos acordar cedo, fazer a higiene pessoal ao som da rádio, ler o jornal (mesmo que digital), preparar o pequeno almoço para nós e toda a família, ajudar na lida da casa, responder aos e-mails, escrever novos e-mails, confirmar as reuniões, fazer chamadas, criar videos, criar e partilhar conteúdo, estar ao vivo nas redes sociais, assistir a palestras, formações, conversas e lives, fazer uma aula de fitness, ajudar com os trabalhos de casa dos miúdos, preparar uma aula, apoiar e ensinar, preparar o lanche para todos, cumprir com todas as reuniões planeadas, sem atrasos, preparar processos de trabalho, ligar a pedir o que está em falta, enviar processos, reuniões de equipa, ler um pedaço de um livro, preparar o jantar com novas receitas,  jantar em família, ajudar a lavar a loiça ao som de um concerto ao vivo, dar uma aula on-line, preparar a agenda do dia seguinte, jogar um jogo com os miúdos, contar uma história, meditar, descansar…

Estamos ligados por emoji’s de emoções com uma série de pessoas que eventualmente não víamos, nem ligávamos à meses ou simplesmente dizia-mos olá, bom dia ou boa tarde e nem tempo tínhamos para dizer “até amanhã”. Hoje é a esses que perguntamos genuinamente se estão bem, ligamos a familiares distantes, sugerimos que todos se mantenham em segurança e longe do perigo, paramos para apreciar o desempenho profissional de outras pessoas e agradecemos por serem tão diferentes e especiais, aplaudimos na rua os profissionais que estão “na linha da frente”, reconhecemos mais que nunca a importância das actividades profissionais que outrora nos passavam ao lado, valorizamos mais que nunca as janelas e varandas das nossas casas, ouvimos a discografia preferida dos vizinhos, sem reclamar, com sorrisos, mesmo quando não nos identificamos com ela, acenamos, damos importância ao mimo, ao carinho das palavras amigas, privilegiamos escutar e partilhar… estamos mais atentos e desejamos que todos estejamos ligados entre nós.

Ouço os pássaros na rua a cantar sem passar um único carro na estrada por mais de 20 ou 30 minutos, apreciamos o silencio, o planeta agradece. Multiplicam-se as acções de entre-ajuda, movida pelo medo, pela coragem e solidariedade que nos caracteriza, ninguém quer ficar isento e contribui, com o pouco que pode, nem que seja uma só a partilha de informação…

Já se notam as diferenças…

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